29 abril 2018

... E eu continuo aqui.

    Era uma vez eu. Sim, eu. Sei que esses dias persisti nesse assunto, mas hoje, mil vezes melhor e mais consciente da situação posso senti necessidade de conversar mais sobre isso: eu. Para quem não sabe muito de mim, mesmo com a exposição toda (que não me arrependo), meu nome é Flávia, tenho apenas 22 anos e 5 deles passei lutando contra uma depressão terrível juntamente com síndrome do pânico. Parece um absurdo ler isso, não é mesmo? Uma menina de apenas 22 anos já ter depressão e outros problemas mentais que, na visão de quem nunca teve, é uma doença para pessoas mais velhas e infelizes. Você já acha muito? Pois te conto mais: fui mãe aos 20 anos quando estava no auge da minha depressão. Vou dizer apenas a palavra "depressão" daqui pra frente porque acredito que ela engloba a síndrome do pânico também, tanto que fiquei depressiva por ter medo de enfrentar tudo.

    Minha infância não foi das mais fáceis. Vivia num lar conturbado, sem estabilidade, sem contar que desde pequena tenho problemas com ansiedade. Início de aulas era uma tortura pra mim (pra minha família também) porque eu chorava pra ir à escola, me trancava no banheiro, e quando chegava a ir, passava muito mal de ansiedade (na época não entendia), e como minha mãe trabalhava lá eu inventava que ia ao banheiro e corria nela pra chorar e me levar pra casa. Foram ANOS de luta contra isso. Até que na 5ª série parou. Isso mesmo, eu tinha 10 anos quando parei de fazer xororô pra ir na escola. A pediatra já enxergava o problema e deixou minha mãe pré-avisada da situação. Chegou 2011. Mudei de escola, fui sozinha pra outra e não conhecia ninguém. Pra piorar me deu a louca e eu cortei meu cabelo na orelha. No início adorei, depois quis morrer. Me sentia horrível. Até fazer amizade eu ia pra aula suando, ficava tremendo na sala, inquieta, desesperada pra ir embora. Chegou 2012. Comecei a passar mal no shopping, no cinema, na sala de vídeo do colégio, parei de dormir fora. Chegou 2013. Era o ano do temido vestibular. Já estava tão doente que nem ligava pra essa palavra. Na escola era só a palavra vestibular e ENEM. Pouca pressão, não? Foi logo nesse início que conheci meu grande amor. Ele estava bem ali e eu nem sabia. Nos apaixonamos no auge da minha doença, e ele foi tão compreensivo. Procurava saber, me ajudar, sempre vinha atrás de mim, aparecia de surpresa (só assim pra eu não passar mal), aguentou muita coisa. Até que nos formamos e eu fui atrás de me cuidar, fiquei bem e entrei na faculdade. Passei 1 ano muito bem e feliz. A gente ia ao cinema sempre (nosso programa favorito), jantávamos, um ia na casa do outro, coisas naturais de namorados.

    Chegou 2015. Julho: o medo voltou. Jesus. Era desesperador. Tentei ir na aula 1 mês, nenhuma das vezes eu conseguia entrar. Chorava horrores em casa, sozinha, conversando com Deus... Tinha certeza que era meu fim. Minha família infelizmente não conseguia compreender como eu não conseguia entrar na faculdade, o que era aquele desespero, aquele pavor que me paralisava inteira. Nem eu entendia. Ouvi muitos insultos. "Você é louca", "isso não existe", "para de palhaçada", "tá inventando desculpa pra parar de estudar", "também, você só fica nesse computador". Frases assim e piores que tive que suportar com muita força pra não cair mais. Agosto: tudo piorou. Foi o mês em que fui trancar a faculdade com o coração quase parando de bater de tanta tristeza. Vi a decepção no rosto da minha mãe e dos meus avós. Eu chorei todos os dias daquele mês e chorei depois também, me sentia inútil, fraca, impotente perante um desequilíbrio emocional. Vi apoio no Rafael que tanto se disponibilizou pra entrar comigo na faculdade, me ajudar... mas nem isso eu conseguia. Vi apoio nele que disse: "não tem problema se você trancar esse semestre, é só você se cuidar de novo e voltar no próximo". E nossa, o quanto ele me ajudou... ele NUNCA apontou o dedo pra mim, nunca disse que sou problemática, sério. E olha que a gente sempre foi muito verdadeiro um com o outro. Me senti acolhida. Outubro: dia 22 descubro que estou grávida num exame de sangue. WHAT? Pedi um de farmácia pra confirmar (que ironia!). Deu positivo mesmo. Rafael em pânico, eu desesperada, minha família pensando "e agora?", mas graças a Deus todo mundo numa boa. Novembro: duas semanas depois da notícia, meu avô já palpitando nomes. Ele falava "Maria Rafaela". E aí ele morreu. Gente. Não sei mensurar. Ele não era meu pai, mas fazia o papel de um. Me deu TUDO, inclusive amor. Fiquei sem chão. A pior parte foi que ele morreu em casa, aos meus olhos, vi ele desfalecer nos braços da minha avó. Os dois sempre foram muito unidos e parceiros. Ele teve um aneurisma aórtico e morreu praticamente instantaneamente. Depois que o sufoco passou eu somente agradeci: "obrigada, Deus, por ter o levado quando ele estava aqui em casa, conversando com a pessoa que ele mais amava no mundo". Ele tinha tanto medo da morte e acabou morrendo sem ao menos se dar conta. O destino é muito louco.

    Continuei mal. Chegou 2016. Ainda mal saía de casa, era uma luta pra fazer qualquer coisa, mas o fato de saber que carregava uma vida me aliviava muito, me dava forças, tanto pra mim quanto pra minha família. Junho: ela nasceu. Agosto: retomei meu tratamento. 2017: sem crises. Iniciei a faculdade de novo, dessa vez outro curso. Desde então venho me superando dia após dia. Falta muita coisa ainda, mas posso dizer que estou ótima. Foi fácil? Não. Foi é muito difícil. Caí, levantei, caí, levantei, caí... mas venci.

   Vocês me vêem aqui, no instagram, nos vídeos, na vida, mal imaginam tudo o que tive que passar pra fazer o que faço hoje. Pensam que nunca pensei em dar um fim nisso tudo? Em me eliminar do mundo pra pararem de me criticar, de apontar meus erros, de ser um fardo? Pensam que venci essa luta apenas tomando medicação controlada? Quantas vezes fui nos lugares passando muito mal, querendo sumir, e mesmo assim sorri? Na verdade, quantas vezes vocês acham que ainda faço isso? Vocês pensam que ainda não tenho recaídas e que não me sinto deprimida? Puts. O que aprendi durante esses 5 anos foi que pessoas com depressão riem, sorriem, brincam, fazem tudo. O exterior é mole, mas já pararam pra pensar no interior? O interior está morrendo aos poucos. "Não sou o suficiente", "nada dá certo", "por que não tenho amizades igual antes?", "por que só me criticam e quando faço algo legal ninguém vê?", "por que não posso ter minha privacidade?", "preferia não ter nascido", "tanto faz", "mas você me ama mesmo?"... Vocês pensam que isso não rodeia a minha mente mais? A gente nunca a elimina totalmente, infelizmente. Por isso concluí: a maioria das vezes não estamos com depressão. As pessoas que nos deprimem. Repito, foi uma luta chegar até aqui. Deixo vocês com esse texto que fiz no meu instagram.

"PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO: DEPRESSÃO
Comecei a escrever na internet em 2011 quando eu mudei de escola, perdi amigos e tive uma depressão horrível que foi piorando ano após ano. Eu não sabia o que era. Até 2012 foi controlável, mas em 2013 eu desmontei. Saia pouco, não sentia vontade, tinha um lar cheio de brigas (na verdade cresci em lar assim), ninguém entendia o que eu estava passando mesmo com minha mãe tendo tido o mesmo que eu alguns meses antes de eu começar a ter sintomas graves.


Cheguei em um ponto onde parei de sair, vi meu relacionamento ir pro ralo, sentia que não merecia ninguém e que minha vida simplesmente era um beco sem saída, onde eu não iria ter amor, futuro, sonhos realizados, nem nada. Eu apenas existia. Minha vida era uma desculpa. Hoje, finalmente recuperada de sentimentos horríveis que tive, venho aqui contar uma coisa importante, prestem atenção seguidores que me conheceram devido aos meus posts e vídeos sobre depressão e ansiedade:

Você não é errado. Você não é um problema. A gente luta dia após dia pra conseguir acordar melhor e cumprir nossas obrigações. Não deu? Ok, tenta de novo no próximo dia, e assim vai. Em alguns casos a depressão não está na gente. Está no outro. SIM! O outro te deixa doente. Digo no geral, pode ser: mãe, pai, namorado(a), esposo(a), tio, tia, etc. Está bem NAQUELA pessoa que te põe pra baixo todos os dias. Que prefere te criticar nos teus erros e não enxergar teus acertos. Naquela pessoa que só tem algo ruim a dizer e esquece dos pontos bons. Naquela pessoa que diz que te ama, mas só te machuca. Como você quer sair de uma depressão convivendo com pessoas que dizem te amar quando na verdade demonstram seu amor de forma violenta? De forma invasiva? Isso não é normal. E você que é o doente da história?

Busque estar ao lado das pessoas que tiram o melhor de você. Que faz você rir, se sentir confortável, segura(o), FELIZ. Aquelas pessoas que quando você fica perto você não quer mais ir embora, sabe?! Isso ajuda muito na depressão e ansiedade, também naquelas dias que não estamos felizes e só queremos um colo amigo, um colo de amor pra dizer que ainda existem pessoas que querem o teu bem."



Demorei, lutei, chorei, dei risada, mas venci, por ora. Sofri demais, ninguém imagina... E eu continuo aqui. Vou lutar quantas vezes for necessário.